Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,
As sensações renascem de si mesmas sem repouso,
Ôh espelhos, ôh! Pirineus! ôh caiçaras!
Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro!
Abraço no meu leito as milhores palavras,
E os suspiros que dou são violinos alheios;
Eu piso a terra como quem descobre a furto
Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios beijos!
Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,
Mas um dia afinal eu toparei comigo...
Tenhamos paciência, andorinhas curtas,
Só o esquecimento é que condensa,
E então minha alma servirá de abrigo.
Fonte: Mario de Andrade /Textos Mon Feb 25 2008 08:41:04 GMT-0300 (Hora oficial do Brasil)
segunda-feira, fevereiro 25, 2008
sexta-feira, fevereiro 15, 2008
Ler um bom livro é melhor que surfar a Web
Magnet: O que seria necessário para melhorar a qualidade da informação na internet?Stoll: Falta qualidade editorial na Internet. Um bom editor rejeita 99% de tudo o que chega às suas mãos, deixando passar pelo filtro apenas 1% de texto bem escrito e assuntos importantes. Como não há editores na Internet, o resultado é um monte de informação barata e de acesso fácil, mas que não é de boa qualidade. Se eu quiser informação de qualidade, de acesso fácil e rápido, posso ir ao site da Lexus, Nexus, Dow Jones Online, O Globo, mas aí tenho que pagar por ela. Conectar-se à Lexus custa U$ 200 por hora. Não é barato. Se eu quiser informação boa e barata, posso ir a uma biblioteca ou comprar uma revista, mas aí o acesso não é fácil nem rápido. Tenho que pagar pela qualidade editorial de alguma maneira.
O mesmo acontece com as notícias. O lugar mais rápido onde as notícias podem chegar instantaneamente é a TV. A notícia demora mais para chegar ao jornal, mais ainda para chegar à revista e ainda mais para chegar ao livro. Mas em cada estágio será melhor editada, melhor revisada, terá passado por mais reflexão. A matéria da TV será menos precisa, não terá detalhes; no jornal a matéria será mais bem escrita; o artigo da revista incluirá outras referências; o livro expressará as idéias de um indivíduo. Na Internet podemos obter instrução barata, fácil e rápida. Mas não é de boa qualidade. Se você quiser uma boa instrução, terá que pagar um bom professor! Terá que estudar muitas horas. Isso não é rápido nem fácil. Meu problema com a Internet é que ela promete o barato, o rápido e o fácil, mas não menciona a qualidade. E o "caso de amor" que temos com a rapidez e facilidade pode fazer com que ignoremos a qualidade. É isso o que está errado na Internet.
Magnet: Diferentemente da televisão, na Web você pode comunicar suas idéias a outras pessoas. Você não acha que isso faz a diferença?
Stoll: Quantas pessoas você acha que a sua mensagem pode alcançar? Você realmente acredita que na Internet a sua mensagem pode atingir um milhão de pessoas?
Magnet: Acho que depende da mensagem, não?
Stoll: Eu penso que existe uma relação entre qualidade de comunicação e facilidade de comunicação. Enviar spam ou junk mais é fácil, mas enviar um email bem elaborado é mais difícil. Enviar uma carta escrita a mão é muito mais difícil. Qual terá o maior efeito? Bem, a carta escrita a mão terá mais efeito sobre uma pessoa. A comunicação entre duas pessoas é a mais importante que existe. É dispendiosa, demanda tempo, exige que as pessoas se reúnam, mas é comunicação de alto valor. Abaixo disso temos o telefonema - nós poderíamos fazer esta entrevista por telefone, mas não seria tão agradável e significativa para mim. Abaixo do telefonema poderíamos ter uma entrevista via email. Abaixo disso poderíamos ter uma entrevista numa sala de bate-papo.
Minha tese é a de que quanto mais próximo você está de alguém, melhor é a comunicação, e quanto mais eletrônica é a comunicação, mais baixa é a qualidade. Quanto mais fácil é uma coisa, mais baixa é a qualidade. Eu visualizo um triângulo econômico. Se eu quiser comer uma comida barata, de acesso fácil e rápido, vou ao MacDonald's. Mas a comida não é boa. Se eu quiser comer uma comida boa, de acesso fácil, vou a um restaurante. Se eu quiser comer uma comida boa que seja barata, eu cozinho em casa. Minha tese é a de que a comida não pode ser ao mesmo tempo boa, barata e de acesso fácil. Com relação à informação, se eu quiser informação barata, de fácil acesso, vou à Internet. É o MacDonald's da informação.
Fonte: Revista Magnet, Cliff Stoll: Ler um bom livro é melhor que surfar a Web. ano 1, n.1, 1999, p11
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